"Crianças invisíveis"?

Hoje eu vi.Hoje eu vi três negrinhos, mulequinhos. Os vi lá, sentados na linha do trem como quem senta na beira de um rio e se põe a contemplar a natureza. Mas eles não contemplavam a natureza, nem mesmo as pernas das mulheres de saia que passavam na passarela que situava-se acima de suas cabeças mirradas. Não comtemplavam nada. Um apenas chorava. Outro tentava consolá-lo. O outro, de cabeça baixa, mexia nas pedras que estavam por toda parte. Posso vê-los. Parecem estar aqui, a minha volta. Posso ouvir o choro de um abafando a voz do outro somado ao barulho das pedras que o terceiro mexia. Dois sem camisa, um de camisa vermelha, bermudas rasgadas e seis pés descalços. Para uns, sãoapenas números. Para outros são dor. Minha esperança se esvai quando os olhos ficam rasos. Mas não, não posso deixa que ela se esvaia assim!
Seriam essas crianças invisíveis? Não. Elas não são invisíveis, estão ali, de fato. Existem e sofrem. Seriam eles (aqueles lá) cegos? Não. Eles não cegos. Apenas fingem essa cegueira pois se beneficiam dela. E mais tarde, eles considerarão essas crianças- agora adultas- o ANTÍGENO DA SOCIEDADE, e aí, passaram a ser visíveis, notados e essa visibilidade os farão chegar a conclusão de que são marginais. E essa mesma visibilidade os farão temê-los. "Crianças invisíveis, adultos temíveis"? Solução? Aqueles acham que a única solução para exterminar estes antígenos é a ação dos anticorpos e põem, plantados, nas bocas das favelas os agentes da "Gurda Nacional", tentando passar uma imagem superficial de segurança. Segurança para quem? Para nós das favelas, que não pagamos impostos?

Aaahhhh....não vou finalizar o texto.....sabe porque? Tô de saco cheio, com sono e com o dedo inchado e roxo, pois fiz a bênção de prendê-lo no ventilador de teto....cansei...não quero mais escrever. Vou dormir. Tchau e boa noite!
Ah! Beijos pra Betina e pra Joice! Adoro vocês!

2 comentários para maricota:

Eleonora Marino Duarte disse...

o dedo que aponta sempre parece sair ferido, não por acaso feriu o seu no furacão do ventilador! mas é preciso apontar o dedo, contar os pés descalços e não finalizar o texto, não finalizar o texto jamais. deixar o incomodo, o gosto de que a idéia continua e atrapalhar o sono de todo o mundo com os neguinhos zunindo pedrinhas em nossos ouvidos.

belissimo texto maricota, nossas ancestrais (tão bem reconhecidas por você na minha casinha) com certeza estão tremendos os seus Adjás e abençoando a sua cabeça de virar mundo!

beijo na maricota e na joice porque também gosto muito delas!

ManinhaChica disse...

Ahhh! nem precisa terminar...
já discutimos esses.
é sim, assunto imensuravel.
que expande, até a sociedade dá pra gente resposta que eles acham que nos convencem.
Mas nem todo morador da favela é burro, nem todos caem nas pegadinhas com falta de inteligencia e originalidade.

e essa segurança que você disse, é sim, mas não nossa, a segurança é deles, pra nos escravizar e garantir os seus roubos, inclusive da nossa liberdade.
Isso me entristece, sempre que paro pra pensar.

tava pensando (essa semana), sobre a nossa conversa sobre dar esmola e tals...me levou a refletir (muitas vezes e outra vez)

A obrigação de suprir a carencia é do governo, mas eles não fazem nada (nunca), e sei que se ajudarmos eles continuarão sem ajudar, mas enquando ficamos nesse jogo...sabe quem paga, né

é complexo demais, não sei se posso internder, mas o que compreendo
È que não podemos deixar assim, ficar inertes a inércia deles.

Não podemos!!!!

 
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