"Quero ser negra, com minha alma negra"

Meu povo é lindo mesmo, não é?
Perceba como nós temos um enorme coração: apesar de termos sofrido tudo o que sofremos, da forma que sofremos e tão explicitamente, fazemos, ao invés de gueras, poesia para descarregar todo nosso sentimento de forma linda e poética, onde nossas maiores armas são os sentimentos, as palvras, e os mais simples de todos, um lápis e um papel!
Escrevo aqui uma poesia de Maria Isabel Nascimento Leme proclamando sua negrura. O poema foi retirado de um livro de Abdias do Nascimento (salve, abdias!) intitulado "O Quilombismo, excelente, por sinal.
Segue, abaixo, um dos meus preferidos:

Quero ser negra, com minha alma negra

"Sou negra como a noite
Ou um olhar sem visão
Trago ainda no açoite
Bem viva recordação.
Fui uma mísera escrava
A tudo ignorante
A mim sempre importava
Lutar e seguir adiante.

Tentaram me tirar a essência
Mas ela é imaterial
Acusaram tudo de indolência
E me transformaram e animal.

Mas um trunfo tenho em mãos
Ninguém poderá me roubar
Podem tentar, será em vão
Ele é invisível ao olhar.

É algo que sempre trouxe comigo
Desde a mais tenra idade
E este algo sei que vou levar, amigo
Comigo para a eternidade.

É a minha alma negra
Tão negra assim como eu
Tal e qual minha cor tão negra
Que bom Oxalá me deu.

Quando um negro é bondoso
Dizem que é preto de "alma branca"
Ml sabendo o ditoso
Que é mais um golpe de retranca.

Se para alma existe cor
Quero-a negra como eu
Para que conserve o sabor
De quem com ela viveu."
 
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