91-09

Nota: escrevo este texto para explicar a minha ausência na Internet, logo, ausência no blog: vestibular 2009!
Escrevo aqui, uma pequena e importantíssima parte da minha vida: minha dedicação aos estudos.
Abraços saudosos, Maricota!

Criada num cenário de arquitetura única, sempre tive gosto pelos estudos, e não seria brasileira legítima se não existissem as dificuldades, sobretudo, as financeiras. Me lembro, até hoje, de como era dificíl estudar para as provas, principalmente na época entre 2ª e 4ª séries. Eu não tinha livros, então eu tirava xerox dos livros dos colegas. Certa vez, a menina que me emprestava os livros, não quis emprestar à véspera de uma prova- foi uma loucura. Quando passei para a 5ª série, meus pais não podiam mais pagar o colégio e fui estudar numa escola do Governo do Estado. A situação agravara-se: eu tinha 10 anos e acordava às 5:00 da manhã e saía de casa às 6:00 para ir à escola. Eu ia sempre sozinha, pois a escola era longe e minha mãe não tinha dinheiro para me levar e trazer. Além do problema financeiro, a distância passou a ser mais uma dificuldade a ser encarada, mas eu nunca desisti. Logo inicío das aulas, as sucessivas greves dos professores por um salário mais justo vieram para dificultar ainda mais. Foram quase 3 meses sem aulas, só na 5ª série. Continuei lá na 6ª série passando pelas mesmas dificulades, inclusive as greves. Quando eu passei para a 7ª série, a situação ficou um pouco melhor e eu conseguiria uma bolsa de estudos numa escola particular se eu estudasse à tarde. Fiz a 7ª e 8ª séries lá com muitos apertos, com meus pais ralando muito, suando para me manter lá. A excelência do ensino dos professores contrapunha-se à falta de educação dos meninos e meninas da classe média alta que estudavam lá. Eles achavam que só por que pagavam caro pela escola poderiam fazer o que quisessem. Mas, o que mais me irritava além da falta de educação, era o preconceito. Era preconceito com tudo: com gordos, negros, bolsistas, filhos de faxineiros, faxineiros. Uma vez, fui xingada. Me chamaram de "Filha-da-p...preta". Foi terrível. Eu era muito menina, muito nova. Não tinha cabeça para encarar aquilo tudo, então, tentava ser igual a eles. Eu odiava meu cabelo, pois uma vez um menino disse que era feio, parecia o Bob Marley. Isso tudo mexeu muito comigo e, por incrível que pareça, me motivou a estudar cada vez mais e mostrar pra eles que todos podem tanto quanto eles.
Eu quero mostrar o valor do negro, quero poder difundir a cultura negra , que é muito rica. Ela não aparece na mídia com o valor merecido. As pessoas merecem saber sua história, não só em seus espaço e tempo atuais, como nos passados. É o mínimo de respeito!
Eu ouvi algumas músicas de uma cantora que amo muito, Margareth Menezes, que falam do negro, e uma dessas músicas é "Raça Negra" . Despertou-me uma emorme curiosidade (que hoje é uma necessidade) de saber de onde eu vim, quais são as minhas raízes e me indaguei: o que aconteceu ontem para eu estar aqui hoje? A partir daí, eu comecei a estudar sobre o negro, que até então eu conhecia muito pouco de sua história, da minha história. Comecei estudando a colonização, escravidão, depois comecei a estudar as religiões afro-brasileiras (um estudo superficial) e fui estudando até chegar nos dias atuais. Quando estudei as questões sociais no Brasil hoje, percebi que estava diante de "ontem". Percebi também, que amava estudar história. Tudo o que vivemos hoje, é o retrato atual do passado. Nada mudou, a não ser a estética, como por exemplo: o que ontem eram os quilombos, hoje, são as favelas.
Quando verdadeiramente dei um significado para a história na minha vida, foi amor à primeira vista! Tudo e todos têm sua história. E o meu maior sonho hoje é passar no vestibular, ser historiadora e motivar as pessoas, quero poder mostrá-las que cada um escreve a história que quer!
Não quero com isso dizer que somos dignos de pena, quero dizer que podemos trihar um caminho vitorioso!

"Não existe um caminho para a paz, a paz é o caminho." Gandhi.

"Eu tenho um sonho: de ver meus filhos sendo julgados pelo seu caráter, não pela cor de sua pele." Martin Luther King.
 
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